Estilos arquitetônicos. Qual devo construir?
Capa do texto Estilos arquitetônicos

Antes de tudo eu preciso deixar claro que a intenção deste texto não é influenciá-lo a escolher este ou aquele estilo, embora eu tenha um que utilize, como arquiteto, em predominância nos meus projetos. A ideia é paramentá-lo com informações suficientes sobre cada um para que você possa decidir sozinho. E porque isto é tão importante? Por que a escolha do profissional que vai executar o projeto de sua casa depende muito da escolha que você fizer neste quesito. Afinal não é muito aconselhável pedir a um arquiteto acostumado a projetar casas neoclássicas para elaborar um projeto modernista e vice-versa.
Os estilos arquitetônicos surgiram em cada momento da história como uma solução técnica e estética àquele momento correspondendo as possibilidades construtivas, existência de materiais e mão de obra específicas, bem como ao entendimento que fazia da arquitetura à época. Para cada região a arquitetura se moldou ao longo da história de acordo com estas premissas. Os telhados com grandes inclinações presentes nos países nórdicos se devem à necessidade de fazer a neve cair quando acumulada, já os telhados com beirais extensos presentes na arquitetura colonial brasileira se devem à necessidade de levar as águas das chuvas para longe da parede. As casas construídas antes do surgimento do concreto armado tinham muitas divisões porque a estrutura que suportava o peso eram as próprias paredes e daí era muito difícil vencer grandes vãos sem apoios. Estes exemplos são apenas para se saber que os estilos arquitetônicos surgiram muito mais como uma causa do que como um estilo e não devem ser vistos como itens disponíveis numa prateleira para serem escolhidos ao bel prazer de um consumidor. Cada um deles carrega consigo conceitos, possibilidades e características que podem torná-los ótimos ou péssimos a uma determinada localização. A melhor escolha deverá levar em consideração a cultura do local, a existência de mão de obra capacitada, a existência dos materiais adequados e o partido que se propõe o projeto. É lógico que a escolha ficará a seu cargo e eu não poderei fazer nada se escolher construir uma casa típica de Mikonos na Grécia ou uma vitoriana da Inglaterra no meio de um condomínio em alguma cidade no Brasil. De qualquer forma é preciso dizer que o estilo arquitetônico não é o elemento principal que vai determinar se a residência será funcional e bonita, pois tudo vai depender da excelência do arquiteto, do projeto que ele fizer e se a obra vai ser construída de acordo com ele.
Antes de entrarmos nos pormenores de cada estilo eu preciso que saibam o que vêm acontecendo com o uso dos estilos arquitetônicos em novas construções ao longo dos últimos 20 anos. Os estilos contemporâneo e modernista tem se sobressaído em relação ao colonial, neoclássico, eclético e afins. Isto tem acontecido por fatores estéticos, culturais e econômicos que serão detalhados adiante. Isto não quer dizer que um seja melhor do que o outro, mas comercialmente falando sobre o estilo que vai escolher eu preciso deixar claro quais são as tendências atuais.

Estilo colonial
Surgiu da vinda dos portugueses ao Brasil e foi inserido aqui a partir de 1530 na construção de diversos edifícios, principalmente Igrejas. No caso das residências foram construídas com soluções parecidas com as que usaram na Índia e na China onde tiveram cidades-colônia por um período de tempo. Nestas outras localidades as chuvas de monções eram um grande problema a se enfrentar nas construções, pois os edifícios precisavam suportá-las e, como aqui, também chovia bastante acabaram por empregar expedientes muito parecidos. Estas soluções se deram pela necessidade de evitar que as chuvas estragassem as paredes que eram feitas de barro ou taipa de pilão devido à falta de materiais mais resistentes como pedras. Assim, o uso de varandas e beirais extensos para se evitar as chuvas nas paredes foi largamente empregado. O estilo de construção era predominantemente barroco como fora em Portugal e as casas apresentavam varandas ao seu redor e um telhado com uma curvatura no final conseguida pelo uso do ‘beiral cachorro’ que faziam as águas das chuvas serem projetadas bem distante das paredes. Este estilo conversa com bastante desenvoltura com a cultura brasileira e possui soluções que tornam a residência confortável diante do calor de certas regiões. As varandas ao redor da construção são muito agradáveis e convidam sempre ao descanso e contemplação e a presença de cozinhas grandes que chama todos para se reunirem vem do repertório colonial.
Os elementos simbólicos e culturais deste estilo conversam bem com a vida brasileira, mas é preciso ressaltar os seus empecilhos econômicos e construtivos. As paredes largas feitas com tijolos de grandes formatos, as vergas em pedra e as esquadrias em madeira são peças difíceis de se encontrar e muito caros quando achados. Além disto a mão de obra especializada para construção é presente em abundância apenas em cidades históricas. A execução do telhado com os beirais cachorro também tem mão de obra competente bastante escassa. Contudo vencidos os empecilhos e tendo fundos para a construção este estilo fica bem em grandes terrenos, assim como em chácaras e fazendas ou em assentamentos históricos onde você, provavelmente, só poderá construir neste estilo de acordo com as leis urbanísticas do local.
Veja exemplos:

Estilo neoclássico e eclético
O estilo neoclássico começou a ser empregado no Brasil em larga escala no começo do século XIX como reação ao Barroco e ao Rococó e para afirmar a presença da burguesia nas cidades. É um estilo de valorização da arquitetura clássica greco e romana e apresenta linhas e composições muito mais simples do que o barroco. Primeiramente surgiu na Europa em meio a revolução francesa e se espalhou pelo mundo depois. Neste estilo se dá ênfase a composição das fachadas por meio de colunas gregas, pórticos, frontões, entablamentos etc. Diferente do barroco tem menos rebuscamento e ornamentos. Este estilo prima por conservar as proporções clássicas no dimensionamento dos elementos construtivos formulada pelos gregos que permeia todo o projeto determinando as medidas de cada elemento da construção.
O eclético vem no mesmo movimento do neoclássico se firmando um pouco depois a partir da metade do século XIX e é marcado pela experimentação e mistura de elementos de diferentes estilos como o neogótico, neobarroco e neoclássico. Diferente do neoclássico as regras de composição são praticamente abandonadas e surgem exemplos muito destoantes uns dos outros, mas ainda assim alguns edifícios de valor estético e histórico surgem e guardam até hoje uma beleza própria de cada um deles. Alguns grandes exemplos são os projetos realizados pelo escritório de Ramos de Azevedo que contribuiu para que vários edifícios icônicos da cidade de São Paulo se tornassem em belíssimos cartões postais como o Teatro Municipal, a Pinacoteca, o Mercado Municipal, a mansão das Rosas etc.
Estes estilos guardam em si suas belezas estéticas de outrora e ainda são utilizados em novos projetos residenciais, mas apresentam obstáculos construtivos muito maiores do que o colonial porque não existem mais artesãos e mão de obra específica para executar os ornamentos do passado. Hoje estas peças especiais são quase todas feitas de isopor com a aplicação de uma camada de cimento em sua superfície. A execução da parte de alvenaria no tocante aos pilares gregos também é bem difícil de executar e carece de gente capacitada no ramo, assim como para construir as cornijas, entablamentos, cimalhas, óculuns e frontões. Este tipo de construção costuma custar quase o dobro do que o estilo moderno ou o contemporâneo.
Veja exemplos:

Estilo modernista
Surgido por meio da junção de um avanço tecnológico advindo da revolução industrial que proporcionou o uso de ferro e do concreto armado nas construções com as artes plásticas da época, principalmente o cubismo. O modernismo praticamente rompeu totalmente com as relações arquitetônicas do passado. As construções eram relacionadas ao princípio de uma máquina onde todas as suas peças exercem uma função em seu funcionamento. Desta foram uma casa deveria ser uma máquina de morar e assim todos os ornamentos, enfeites e decorações desapareceram por completo neste estilo. Utilizando das possibilidades construtivas grandes vãos surgiram unindo vários ambientes, janelas em extensão, planos de vidro e estruturas livres das paredes surgiram como um novo ideário. Este estilo foi rapidamente assimilado nas grandes construções de edifícios corporativos e institucionais porque proporcionavam uma ideia de modernidade e evolução alicerçadas em construções rápidas, enxutas e mais baratas. O uso nas residências também aconteceu, mas num processo mais lento. No Brasil esta arquitetura encontrou um terreno fértil e se desenvolveu com maestria nas mãos de Niemayer, Lucio Costa, Rino Levi, Lina Bo Bardi, Artigas, Paulo Mendes da Rocha etc. A cidade de Brasília é um ícone mundial dos resultados estéticos, funcionais e simbólicos que esta arquitetura pôde alcançar. Muitos edifícios icônicos também foram construídos neste estilo, como o MASP, o Parque do Ibirapuera, o MAC no Rio de Janeiro, o Museu de Niterói, a casa de vidro etc. 
Este estilo tem as vantagens de utilizar dos recursos tecnológicos construtivos atuais, de mão de obra abundante para sua execução e do uso de materiais e soluções técnicas que a tornam a construção de uma residência muito mais rápida e barata.
Ainda hoje este estilo é largamente empregado com algumas evoluções internas em seus próprios conceitos em novos edifícios e residências. Muitos autores podem catalogar os nomes a seguir como sendo do estilo contemporâneo, mas na minha análise se tratam de arquitetos que evoluíram os conceitos do modernismo numa arquitetura mais atual, como Marcio Kogan, Isay Weinfeld e Arthur Casas.
Veja exemplos:


Estilo contemporâneo
É praticamente tudo o que constrói hoje e que não pode ser catalogado em estilos de outrora. E por isto mesmo é muito difícil se constituir um ideário de elementos construtivos em comum para todas as construções executadas neste estilo. De qualquer forma vou apresentar alguns grupos para podermos fazer algumas comparações e definições.
Pós moderno: é um movimento que procura romper com o modernismo, mas possui linhas com diferenças grandes dentro de seu próprio ideário como a historicista, a regionalista e a high-tech. Este movimento procura assimilar a velocidade das mudanças tecnológicas e simbólicas de nossa era juntando tudo e ao mesmo tempo. Por isto mesmo carece de um conteúdo mais definido deixando seus e conceitos muito vagos; 
o Exemplos:

Americano: as residências buscam imitar as casas novas de bairros dos EUA com telhados em várias águas, molduras externas ao redor das esquadrias, ausência de muros de divisa e sem encostar a construção em nenhum dos lados do lote. Este tipo de residência tem sido executada com bastante frequência, principalmente dentro de condomínios fechados;
o Exemplos:

Mediterrânea: as residências buscam imitar as casas novas construídas ao longo do Mediterrâneo na Europa, com grandes varandas, beirais e terraços. Este tipo de construção tem semelhanças com o nosso colonial;
o Exemplo:

Rústico: lembra muito o colonial em certos aspectos estéticos, principalmente nos materiais que são muito parecidos, mas se distancia na composição dos espaços e por não seguir a planta tradicional colonial e nem as fachadas barrocas. Os materiais são utilizados em sua brutalidade natural, muitas vezes desgastados, lixados e de formas irregulares compondo espaços despojados e elegantes ao mesmo tempo. Pode ser uma pouco mais cara de se executar, mas tem uma boa acolhida no mercado e possui mão de obra com mais abundância para executá-la.
o Exemplo:

Minimalista: quase como uma evolução do modernismo este estilo busca exacerbar o lema de ‘menos é mais’ e apresenta a mais completa busca pela simplicidade e eliminação de elementos desnecessários. Os espaços são totalmente despojados, apresentam poucos elementos de composição e são quase herméticos;
o Exemplo:

As construções catalogadas neste este estilo também têm as vantagens de utilizar dos recursos tecnológicos construtivos atuais, de mão de obra abundante para sua execução e do uso de materiais e soluções técnicas atuais. Contudo, algumas vezes na busca pelo high-tech ou na elaboração de um projeto muito ‘ousado’ pode haver um encarecimento deste tipo de construção.  


Existem muitos outros estilos de arquitetura além dos apresentados. Eu escolhi os que aparecem mais e que estão em evidência. Você pode ainda gostar de algum que eu não apresentei e escolhê-lo como opção de construção de sua residência. A única questão que deve ficar clara é que quanto mais diferente e exótico mais cara e difícil será de se executar esta residência, e talvez de vendê-la no futuro também. A dica primordial que eu deixo é que você depois que souber qual o estilo de casa deseja construir faça uma boa escolha do profissional que vai desenvolver seu projeto por que não adianta nada escolher o mármore mais caro e raro se você não tiver um Michelangelo para lhe dar vida.
Se quiser saber mais de como contratar um arquiteto você pode ver outro texto meu em:
ou um vídeo no youtube em nosso canal em https://www.youtube.com/watch?v=6eKoxYVzIc0&t=78s

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